quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Relação homem x ambiente: Somos produtos do meio?


Durante muito tempo tentei classificar os seres humanos. Nossa sociedade, de certa forma, vive disso: classificar, rotular, enquadrar as pessoas de acordo com seus (pré) conceitos. Hoje, a definição mais clara que tenho sobre os seres humanos é que nós somos, apenas, predadores-topos da cadeia alimentar. Essa pode parecer uma definição meio radical, todavia, pretendo ao longo deste texto apontar os fatores que me levaram a pensar assim.
Culturalmente, adotamos uma posição que nos colocou como parte isolada da natureza. Com isso, passamos a ter um dualismo: sujeito x objeto (coisa); vivo x não - vivo; homem x natureza e, por último, superioridade x inferioridade. Como se de fato nós fossemos superior as coisas (natureza) e não parte dela. Não se sabe ao certo qual a origem dessa divisão, mas com certeza a sociedade moderna difundiu isso de forma bem majestosa.
As sociedades ditas “primitivas” demonstravam estreita relação com a terra, vide a sociedade indígena. Cabida as devidas proporções religiosas, os índios tinham muito bem definido o que a natureza representava. Existia um grande respeito sobre as “coisas da terra”, da qual retiravam somente o necessário para sobreviver. Por outro lado, a sociedade moderna, desde seus primórdios, é altamente consumista. Esse status de máximo consumidor acaba colocando a natureza apenas como um objeto.
Na verdade essa separação homem e natureza antecede a modernidade. Na Idade Média vemos a discriminação da sociedade contra pessoas que detinham conhecimentos sobre os elementos naturais, tais como: plantas, fogo etc. Para sociedade da época, essas pessoas eram vista como “bruxos”, sem, muitas vezes, terem praticado bruxaria. Ligados com essa questão religiosa os exemplos podem ainda ser maiores.
O que dizer da imagem que é passada para nossas crianças sobre o diabo? Uma figura animalesca com chifre, rabo etc., fisicamente, muito semelhante aos bois ou touros. Essa não é uma visão bíblica do diabo. Tirando o livro de Apocalipse, no qual as partes figurativas e literais devem ser bem separadas, não vejo tal imagem sendo disseminada na Bíblia. Aliás, na minha visão particular, o diabo da Bíblia “veste Prada”, ou seja, é uma figura tentadora e não assustadora. Esse é mais um dos motivos para nós vigiarmos. E a serpente? Talvez, esse seja um dos bichos de maior repúdio. É comum nos ensinamentos bíblicos sobre a tentação, a serpente ser mais valorizada do que o próprio ato de desobediência. Alguém já pensou o impacto que essa “cultura” de repúdio gerou na população desses animais? Que conseqüências isso teve no funcionamento dos ecossistemas? Vale a pena lembrar que a visão bíblica da criação (Deus, homem e natureza) é de harmonia.
Embora parte dessa reflexão venha sendo revista, ainda hoje, nós disseminamos muita informação cultural que implicitamente carrega essa dualidade (homem vs ambiente). Um exemplo é o fato de considerar a natureza como mãe-natureza. Mãe é quem, além de dar carinho, tolera nossas falhas, nos compreende quando erramos e nos perdoa quando somos agressivos. Assim, teoricamente, a natureza também pode nos perdoar, tolerar nossas agressões e nos oferecer sempre mais do que ela pode nos dar. Nessa visão a natureza é onipotente, assim como Deus é onipotente. Acredito que o mais coerente é admirarmos a natureza como uma manifestação do poder divino e zelar pelo seu perfeito funcionamento. Será que esquecemos a missão que foi designada a Adão de zelar pelas obras do Criador?
Rogo para que nós seres humanos, independente de crença, raça ou religião, estejamos sempre em constante reflexão sobre os exemplo e ensinamentos que estamos passando pra nossa descendência. Não me julgo como um ambientalista ou uma pessoa que busca por uma sociedade utópica. Vivo em função da natureza, procuro entender suas regras e leis para usufruir de maneira racional dos seus benefícios. Todavia, não olho nunca para ela, apenas, como meu objeto de estudo. Tenho a consciência de que sou mais um produto desse meio.


Bruno Menezes
(Biólogo, Mestre e Doutorando em Ecologia e Recursos Naturais)

2 comentários:

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